Hoje Garrincha estaria completando 77 anos de idade se entre nós estivesse- e está!, é imortal o nosso Mané, está em nossa memória e em nossos corações, para todo o sempre. Não foi Rei; não foi Imperador; não foi Príncipe; foi algo muito mais belo e lúdico: foi a Alegria do Povo! O que pode haver de beleza maior que levar alegria a um povo, mormente um povo pobre, humilhado pela miséria, como o nosso? Nada, digo-vos eu, por isso Mané, com suas pernas tortas, seu jeito simplório, foi o maior de todos, nenhum titulo, doce Mané, é maior que o seu: A alegria do povo!
Sou Botafogo, Mané, por tua causa, meu querido pai era torcedor fanático do time lá da Gávea( pobre Gávea, um bairro tão bonito!), e por ser o mais velho tinha de seguir os passos dele, mas como o Botafogo nos escolhe, fui escolhido ao "ver" no rádio seus dribles, sua arrancadas, sua maneira única de fazer do futebol uma eterna pelada, daquelas que jogava com seus amigos de infância lá em Pau Grande, onde nasceste. Lembro-me, Mané, eu um garoto de seis anos, a acompanhar a decisão do Campeonato Carioca de 1962, quando destruístes os pobres urubus, enfiando-lhes um humilhante 3 x 0 papo abaixo( não sei se urubu tem goela); ali, Mané, o brilho de nossa estrela já havia tomado minh’alma e meu coração, mas eu guardava a paixão escondida dentro de mim, por medo de decepcionar meu pai. Não que ele fosse me bater, zangar…nada disso, ele era incapaz de algo assim, mas medo da tristeza que iria lhe causar. Mas têm coisas que não dá para esconder e no dia seguinte ao jogo estava na loja que tínhamos lá em minha querida São José do Calçado, meu pai ainda não havia chegado, quando digo para minha mãe: Mãe, eu sou Botafogo, mas tenho medo do pai não deixar! Ela me deu um beijo e disse: ” Vai deixar sim, eu vou falar com ele.”Pouco depois entra meu pai, cerca de 110 quilos espalhados por cerca de 1,83 metros; minha mãe, do alto de seus 1, 58 metros, se vira para ele e diz: ” O Zé Antonio é Botafogo e você não vai obrigá-lo a mudar de time, aliás, eu agora também sou Botafogo!” E sem esperar resposta vira-se para mim e diz: ” Viu, eu não falei que ele ia deixar, agora vai brincar com seus amigos na praça!” Saí em desabalada carreira, gritando a plenos pulmões: Eu sou Botafogo!!! Eu sou Botafogo!!!…o pai deixou…coitado, nem a boca abriu. Era um bom homem, meu pai.
Pois é, seu Mané, foi assim que me tornei Botafogo, e você é o maior responsável por isso. Parabéns por seu aniversário e meus agradecimentos eternos por ter sido o que há de mais belo e puro que um homem possa ser: A alegria de seu povo!
Obs: Crônica que fiz no aniversário do Garrincha que estou reproduzindo aqui.