Vou contar um caso triste e engraçado que aconteceu em uma daquelas derrotas vexaminosas que de quando em vez o Botafogo consegue arrumar. Foi uma de sete que levamos do Bacalhau…ai…ai…aquele time meio brega que usa camisa com uma faixa atravessada que mais parece cinto de segurança. Mas vamos à tragédia. À época tinha um amigo e sócio, também botafoguense- claro!, doente- mais claro ainda!… pois muito bem, na segunfa-feira após à fatídica derrota, num esforço sobre-humano conseguí me levantar da cama, o corpo pesando toneladas de indignação e vergonha e fui trabalhar, cheguei e fui direto para o escritório, sob os sorrizinhos irônicos dos funcionários, que nada disseram, se tivessem o atrevimento de dizer alguma gracinha seriam sumária e imediatamente demitidos pela mais justa das causas. Pouco depois chega o Pedrinho, jornal por sob o braço, cara amarrotada, olhar perdido… de dar dó a silhueta de meu amigo. Me dá um bom dia chocho, senta-se em sua mesa, que era defronte à minha, acende um cigarro e começa a ler o jornal, um silêncio sepulcral rondava o ambiente, carregado de nuvens negras e tristes. Eu lá tentando me concentrar em conferir os caixas. Difícil, na mente só a maldita derrota, vergonhosa, indigna do Botafogo. Passado um tempinho o Pedrinho diz:
- Demos muito azar, antes do primeiro gol deles anularam um gol da gente. Juiz safado!
- É…respondi
- E teve um pênalty a nosso favor que o ladrão não deu…
- É…
- E se aquela bola que bateu na trave entra a coisa ia mudar.
- É…
- E o quarto gol deles foi em impedimento, e o vagabundo do bandeira não deu.
- É…
- E se…
Não deixei ele terminar, dei um soco na mesa, peguei o pesado cinzeiro em forma de pneu de caminhão com uma das mãos, me levantei, apoplético, e disse:
- Porra Pedrinho nós perdemos o jogo de sete, entendeu: 7 x 0…e pelas minhas contas você já empatou a porra do jogo, se virar vou jogar esse cinzeiro no meio da sua testa!
- É…- resmungou ele.
E fez-se novamente silêncio no turvo ambiente.
Zatonio Lahud.