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quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Botafogo: se cantamos, vibramos, choramos, é por ti

O Botafogo está em crise, e daí? Somos assim... passionais, chorões, reclamões, irônicos, debochados, depressivos, mas acima de tudo somos Botafogo, a nosso favor só temos nós mesmos, e vamos seguindo nossa gloriosa sina de sofrimento, paixão e glória. Não temos a mídia do nosso lado, não temos as arbitragens, não somos o time do povo, mas clube algum deu tantas alegrias ao povo brasileiro quanto o Botafogo. Mané Garrincha, a alegria do povo era nosso; João Saldanha, o "comentarista que o Brasil consagrou" era nosso; Didi, Gérson, Jairzinho, Zagalo, Amarildo, Paulo César Caju, Roberto Miranda e nosso santo, Nilton Santos, além do Garrincha, foram campeões do mundo pelo Brasil. Ninguém tem tantos, e temos uma estrela que brilha mesmo na dor mais profunda de uma derrota humilhante, derramamos nossas lágrimas e seguimos adiante, pois nossas glórias conquistamo-las sozinhos e são sagradas, como tu...bota dor...bota sofrimento...bota angústia...mas acima de tudo bota paixão em nossos corações...Botafogo!
Tu és o nosso Glorioso e se cantamos, vibramos, choramos, é por ti...Fogo!

Obs: Crônica que fiz em 24/03/2011

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Como ser Botafogo e achar que a vida tem jeito

 A superstição e o fatalismo que acompanham os botafoguenses não estão no meu caderno. Jamais me deixei levar por qualquer esquisitice que pudesse ter o mínimo laivo de superstição. É que eu sou a terceira geração de torcedores do Glorioso: meu avô paterno, Chico Albino, de saudosa memória, meu querido e longevo pai, Argemiro, nos seus noventa e três anos, e eu. Por força dessas circunstâncias, ser botafoguense talvez seja coisa de DNA, de carga hereditária, o que pode ser a forma mais irrecuperável de determinismo. Assim, montado nesse histórico pessoal, passei o vírus para meu filho Pedro, que infundiu sua paixão na filhinha Gabriela, de cinco anos, que já frequenta o Engenhão, sabe todos os cantos e, coisa terrível para um avô, arrisca até uns xingamentos, algo impensável há uns tempos. Por aí vocês veem: já são cinco gerações.

Aliás, essa carga genética se espalhou por todos os meus quatro irmãos e por muitos sobrinhos. Vê-se, por isso, que é quase uma condição familiar.
Desta forma, como vou achar que um sinal nefasto, um gato preto, uma mariposa escura, uma galinha preta arriada numa esquina vão trazer alguma complicação para qualquer jogo? Ou, ao contrário, que um amuleto, uma promessa, uma premonição vão portar bom augúrio?
Eu ia muito bem nessa batida, quando se deu o famoso jogo do segundo turno do Campeonato Estadual de 1989, o ano da graça, no dia 7 de maio, contra o time da Gávea. Estávamos no Maracanã eu, meu filho então com doze anos e meu sobrinho Bruno, já com quinze. Ao final do primeiro tempo, em que perdíamos por 3×1, trocamos de lugar, nas antigas cadeiras azuis, a fim de acompanhar o ataque do Botafogo.
Aquela, até então, era uma jornada melancólica, por tudo o que vinha acontecendo em campo. Atrás de nós estavam uns rapazes, talvez um pouco mais velhos que meu sobrinho, vociferando em nossos ouvidos frases como: “Bebeto, humilha ele, Bebeto! Não faz mais gol, não, Bebeto! Tem pena deles!” Nas cadeiras, à nossa frente, duas senhoras, já entradas em anos: uma botafoguense, sofrendo todas as humilhações, e a outra rubro-negra, abusando do direito de esculhambar.
 
Quando Gonçalves fez o gol contra que diminuiu a diferença, me levantei e gritei para os dois jovens:
- Ainda dá tempo! Vocês vão ver! Ainda dá tempo!
Um pouco depois, no lance que gerou o nosso terceiro gol, é que a coisa se deu. Quando Mauro Galvão matou no peito a bola que a defesa do outro time chutou de qualquer jeito, no meio daquela chuva toda, numa noite que teria todos os ingredientes para dar errado, vislumbrei um facho de luz vindo não sei de onde, como a destacar o zagueiro dentre todos os outros jogadores. E olhem que eu nem acredito nessas coisas, mas o que vou fazer?
Tão logo ele botou a bola no chão, pressenti que um lance daqueles não poderia se perder numa partida. Havia nele alguma coisa de transcendental, de sobrenatural, de mágico. Ninguém mata uma bola venenosa daquela, pesada, chutada sem dó nem compaixão, para que ela, logo em seguida, não se transforme num cometa, numa estrela cadente. Mauro Galvão não vivera até aquele momento, não jogara bola com a competência de sempre, para, como um cabeça de bagre qualquer, isolar a bola, atirá-la pela linha de lado, entregá-la ao adversário.
O grande capitão, com a categoria que só os predestinados possuem, lançou a redonda para Vítor que, com habilidade, determinação e iluminação, depois de fazer o diabo na defesa rubro-negra, estabeleceu o empate heroico que nos fez aptos a chegar, depois, ao título de campeões invictos de 1989, após vinte e um anos de sofrimento.
Foi a bola estufar as redes do adversário, para começarmos a pular, a gritar, a urrar, a nos abraçar. A senhorinha botafoguense iniciou uma dança tribal desconhecida, em desagravo a todas as ofensas que ouvira até aquele momento. E, se não me falha a memória, incluiu movimentos pélvicos à sua celebração orgiástica. Parecia possuída! Para não deixar moeda sem troco, brandindo o guarda-chuva que levava, virei para os dois jovens da fileira de trás e gritei com toda a força dos meus ótimos pulmões, escandindo as sílabas, no intuito de que não deixassem de entender, no meio da balbúrdia que se formou, um fonema sequer:

- Urubu, vai tomar na olhota do seu cu, seu filho da puta!
Eles não disseram nada. Estavam apopléticos, sem um pingo de sangue no rosto, transformado numa pasta disforme de expressão. É que tinham visto ali, com várias rodadas de antecedência, o Campeão Estadual de 1989, em toda a sua grandeza.
( Crônica de meu amigo e mestre, Saint-Clair Machado, professor de literatura da Universidade Federal Fluminense. Quem quiser excelente leitura á n blog dele Asfalto e Mato Valeu, amigão!  Zatonio Lahud)

domingo, 18 de setembro de 2011

O nosso 6 x 0 foi muito maior que o deles, e eu provo...

Tenho um amigo flamenguista que fez um post sobre um suposto jogo da vingança, partida em que  Flamengo nos venceu por 6 x 0, o resultado foi realmente igual ao da partida de 15 novembro de 1972, mas o nosso 6 x 0 foi muito maior que o deles e aqui vou provar o por quê de minha assertiva. Vamos aos fatos, pois. 

Em primeiro lugar porque vitória do Botafogo vale mais do que a dos outros; em segundo, porque nosso 6 x 0 foi muito mais humilhante que o deles; o gol de letra mais bonito de todos os tempos- passados, presentes e vindouros- foi marcado por Jairzinho neste jogo, foi o quinto gol e tão bonito, mas tão bonito, que antes de ser letra, mais pareceu um poema, dos mais belos que possam existir. Poema que começou a ser escrito nos pés de Zequinha, pela direita, que foi como uma flecha, rasgando seus adversários até à linha de fundo, depois o toque rasteiro, milimétrico, para Jairzinho, que cercado por dois zagueiros, deu o toque final, sublime, na obra-prima: tocou, carinhosamente, com o calcanhar direito na bola, que entrou linda e suavemente no gol dos gaveanos. Eu estava lá, e a beleza do gol foi tamanha que,  ao olhar para cima,  vi a estátua do Cristo Redentor não mais ” de braços abertos sobre a Guanabara”, como na música de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, mas aplaudindo entusiasticamente momento tão sublime e de beleza tão rara.

Não bastasse o gol do Jairzinho, que já prova que nosso 6 x0 foi muito mais 6 x 0 que o deles- um 6 x 0 mixuruca e sem brilho- o nosso foi presente de aniversário que demos a eles, sim além de levar de 6 com gol de letra,  a suprema humilhação: 15 de Novembro é a data de fundação do Flamengo, e como presente de aniversário demos a eles a derrota mais humilhante de sua História. É mais ou menos como chegar em casa para comemorar seu aniversário e encontrar sua mulher na cama com outro. Não há vingança que apague tamanha humilhação. Não no dia de seu aniversário, seu não, deles lá…

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Botafogo: o time era tão ruim que torcida comemorava córner como gol

Como sabeis vós, nosso glorioso e amado Botafogo já passou por momentos vexaminosos em sua gloriosa história, provocados por dirigentes incompetentes que levaram o clube à beira da bancarrota.
O início do século XXI foi trágico para nós, uns timecos de dar vontade de suicidar, mas nós, os botafogo, para suportar a dor desenvolvemos uma fina ironia que nos permitiu sobreviver aos tempos aziagos- que, espero, não voltem nunca mais. Moro perto do Caio Martins aqui em Niterói, que era, nesta época, o palco de nosso patético esquadrão de cabeças-de-bagres, e eu estava lá, todo jogo, purificando min'alma.
Uma vez, creio que contra o Friburguense, quem chegasse ao estádio e não conhecesse os uniformes das equipes acharia que o  Botafogo era o Friburguense, armamos uma retranca vergonhosa e, às vezes, o time chegava à área adversária aos trancos e barrancos- muito mais trancos, ouso dizer-, a torcida indo à loucura quando o Botafogo consegue um córner...foi genial!...sem ninguém combinar a valente torcida alvinegra comemorou o escanteio como se tivesse sido um gol, dai pra frente foi uma festa, lateral a gente comemorava como pênalty, córner era gol.
Como a FIFA não conta escanteio como gol, uma injustiça com aquele esquecível time do Botafogo, tomamos de quatro do poderoso esquadrão da Região Serrana.
Mas rimos como nunca de nossa própria desdita. O que só os grandes de espírito sabem fazer.
E nada é maior que a gloriosa alma botafoguense.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Cronistas Botafoguenses- Juquita


Encontrei-me com o Carioca no final do jogo Botafogo 4 x 0 Ceará, no Oxênte, bar de baiano e reduto da torcida VitóriaFogo aqui em Vitória. Pó, Gilberto, esse time vai ser campeão, tá jogando pra carr...., dizia Carioca naquele jeitão todo característico. Lembrei do dia que nos encontramos no Maracanã.

Tarde de sábado, sol à pino, marcamos de nos encontrar no bar dos vovôs, penúltimo bar à esquerda no anel inferior do Maracanã, entrando pela rampa que dava para a estátua do Mané Garrincha. Toinha e Pedrinho vinham de Niterói, eu saia da Rua Silva Teles, na Tijuca, e nos encontrávamos no bar dos vovôs, dois senhores de cabeça branca, torcedores do América. Antes de iniciar os trabalhos para bebemorarmos o jogo, passamos no túnel que leva às arquibancadas, só para ver o movimento. Ainda nem havia começado a preliminar do jogo entre os juniores do Botafogo e Olaria. Foi nesse momento que encontramos o Carioca sentado na arquibancada.

Uma ressaca havia pego o Carioca desprevenido, e ele teve que prometer para a esposa Carlota, que não iria beber naquele dia lindo, ensolarado e quente. Era promessa de pé junto, o problema foi ter nos encontrado. Voltamos para o bar dos vovôs e enchemos nossos copos de cerveja. Carioca tomou poucos copos e parou. Lembrou da promessa feita. Quando começou o jogo principal, já estávamos achando que o nosso ataque, formado por Cremilson, Tuca e Puruca não devia nada aos dos outros times. Senhor, perdoai aqueles que nos tem ofendido, e livrai-nos de todo o mal. Amém!

Despedimo-nos dos vovôs, enchemos nossos copos e subimos para as arquibancadas. Carioca perguntou se não estávamos esquecendo de pagar a conta. Toinha disse que só pagaríamos a conta no intervalo do jogo. Carioca ficou possesso. Por que não falamos com ele sobre esse detalhe da conta? Ué, você não disse que não iria beber? Quando um não quer, os outros três bebem por você! Carioca desceu o túnel, voltou no bar dos vovôs e trouxe 3 copos cheios de cerveja. Ficou nesse vai e vem durante todo o primeiro tempo.

No intervalo do jogo, voltamos ao bar, pedimos algumas saideiras e pagamos a conta. Carioca confessa, preocupado. Havia prometido para a esposa que não iria beber e agora ele estava daquele jeito. Pedrinho até sugeriu que fossemos até a casa do Carioca, no Andaraí, para ajudar nas justificativas. Pressentindo o desastre, Carioca encerra o assunto com a seguinte justificativa: Toinha, a Carlota já não quer ir para Calçado, nos feriados, porque eu faço conta naqueles botecos todos. Se ela fica sabendo que eu abri uma conta no bar do Maracanã, ai eu tô perdido. Deixa que eu vou sozinho, a Estrela Solitária me conduz.

Obs: Crônica escrita por Gilberto Vieira de Resende, meu amigo Juquita, companheiro de longas jornadas etílicos-alvinegras atrás de nosso amado Botafogo. Se algum botafoguense quiser enviar uma história interessante com o Botafogo é só enviar para botafoguismoradical@r7.com que publicaremos aqui.

                                                                          

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

De Botafogo a Otaogo, uma noite memorável

Após vencermos a Segunda Guerra Mundial como mostrei em crônica anterior ( O Botafogo venceu até Hitler ), fomos responsáveis pela conquista dos três primeiros títulos mundiais conquistados pelo Brasil que vivia humilhado por nunca ter conquistado uma Copa, chegamos próximos em 1950, aqui mesmo no Brasil, tínhamos uma excelente equipe, cuja base era formada por jogadores do Bacalhau, o que foi nossa desgraça, faltou-nos o destemor, a ferocidade e o brilho fulgurante da carismática Estrela Solitária a iluminar os corações e a alma de nosso time. Perdemos!
Como todos os grandes herois, nós botafoguenses, também sofremos nossas vicissitudes e suportamos vinte anos de desgraça, humilhação e vergonha, qualquer outro teria sucumbido irremediavelmente, mas nós somos o Botafogo, nossas glórias não foram conquistadas graças ao apito de juízes amigos, como alguns clubes que conhecemos, mas com luta, suor,  sangue e coragem. Pois bem, após vinte anos de diáspora, venderam na calada da noite até nossa Terra Santa, o sagrado solo de General Severiano, eis que chega o dia da redenção: 21 de junho de 1989! Mas não é do jogo que vou lhes falar, a heroica epopeia é por demais conhecida, vou contar-lhes é a história do Ferrugem, velho amigo lá de São José do Calçado, querida cidade capixaba onde nasci. Quando da decisão de 1989, com o time lá da Gávea(pobre Gávea, um bairro tão bonito!), vieram lá de Calçado uma troupe de uns dez valorosos pinguços alvinegros; o chefe da etílica delegação era o Ferrugem, como eram dois jogos chegaram no sábado, véspera da primeira partida e ficaram hospedados no Hotel do Tonicão, ou seja, lá em casa. Tonicão era meu pai. A bem da verdade, aquilo estava mais para uma grande zona do que para hotel.

Ferrugem, como o apelido já diz, tem cabelos ruivos, cerca de 1,68 e uma barriga que é cópia fiel de um barril de chopp e, detalhe mais importante para nossa história, não pronuncia as letras B e F, é o famoso língua presa. Quando o árbitro encerra a mais gloriosa das partidas, o Maracanã se transforma em um imenso transe coletivo, éramos novamente, como desde sempre, campeões! Todos se abraçam, formando um só corpo de cinquenta mil alvinegros, foi um espetáculo indescrítivel. Após abraçar todo mundo procuro pelo Ferrugem, olho para um lado, para o outro, para baixo…e… nada… até que olho para cima e me deparo com uma das cenas mais hilárias que já vi na vida: nosso pançudo heroi estava de joelhos, a bem cuidada pança arrastando no chão, braços abertos como Cristo crucificado- no caso em tela a cruz teria de ser de ferro, de madeira quebraria com o sobrepeso de nosso obeso personagem-, lágrimas escorrendo em cascata- lágrimas amarelas e espumantes, nunca vi nada igual, lágrimas de cerveja-, e o gran finale, como já lhes disse o Ferrugem engole as letras B e F, e cantava  a plenos pulmões o hino do Botafogo: otaogo…otaogo…campeão desde 1910…e gritava…ooooooooooogo!!!…ooooooooooooogo!!!….otaogo…otaogo…campeão….oooooogo!!!

Olhei o triste quadro, chamei o Pedrinho e disse:- Olha a situação de nosso amigo. Pedrinho olhou, começou a rir e disse: – Vamos lá pegar ele! Fomos, o abraçamos, seguramos um em cada braço dele, o levantamos e saímos, noite adentro, comemorando o fim da saga botafoguense. E o Rio amanheceu cantando o glorioso hino alvinegro: otaogo…otaogo…campeão desde 1910…otaogo…

sábado, 10 de setembro de 2011

Botafogo: o dia em que a Estrela Solitária ressurgiu

A bem dizer,  o Botafogo e eu temos muito em comum, almas gêmeas, até.  Somos meio destrambelhados, capazes de transformamos vitórias límpidas e certas, em derrotas acachapantes e vergonhosas; mas somos também, nós- eu e o Botafogo- capazes de transformamos derrotas humilhantes em vitórias épicas; o impossível, para nós, é sempre mais que possível. Tanto para a maior das glórias, quanto para a mais vergonhosa humilhação. Não temos meios termos, aliás, nem termos temos. Somos tudo ou nada, numa viagem sinuosa entre céu e inferno, sem escalas ou meia medidas. Saímos da mais virtuosa alegria para a mais negra depressão em um átimo de segundo. Nossas estrelas- solitárias, ambas- são tomadas  por imensos buracos negros que se apoderam de nossa luz, nos deixando prostados em dor e vergonha. E quando nossos inimigos acham que nos destruíram, eis que ressurgimos das trevas, altivos, orgulhosos, luz brilhante que os deixa cegos, tontos pelo inesperado da ressurreição, aturdidos, viram presas fáceis e impomos derrotas fragorosas a eles. Mas não os matamos, não somos assassinos, apenas nos vingamos na justa medida.
Mas somos inconsequentes- o Botafogo e eu- não damos o valor exato a nossas vitórias, temos piedade dos inimigos vencidos e, mais das vezes, viramos as costas para eles que, covardes, nos apunhalam. E lá vamos nós de novo rumo ao sofrimento, machucados, exangues, no limite da destruição plena e irreversível. Chegamos ao ponto de ser expulsos de nossa ” Terra Santa”, o sagrado chão de General Severiano, e vagamos durante longos anos , perdidos, humilhados, sem títulos, sem time, sem rumo, sem prumo. Judeus errantes, entregues nas mãos sem piedade de nossos hitleres: urubus, bacalhaus e pós de arroz. Zombaram de nós, espezinharam, machucaram nossa alma o quanto puderam, riram de nossa desdita. Achavam que estávamos mortos, os pobres de espírito, esqueceram-se que História não se mata, como poderia morrer um clube em que jogaram craques como Perácio, Patesko, Carvalho Leite, Heleno de Freitas, Didi, Quarentinha, Zagalo, Amarildo, Manga, Gérson, Leônidas, Roberto, Paulo César, Jairzinho, Nilton Santos, Garrincha e tantos outros, responsáveis pela maiores glórias do futebol brasileiro. Nunca, respondo-vos,e após vinte e um anos vagando, perdidos de nossa estrela-guia, em um 21 de junho de 1989, aos 21 minutos do segundo tempo, noite fria, deu-se o milagre da ressurreição, ela ressurgiu, brilhante, brilho infinito a iluminar o gramado do Maracanã, no exato momento em que Maurício  esticava sua perna direita e enfiava a bola na rede ” deles”. E um rio de lágrimas se formou do lado direito da Tribuna de Honra, lágrimas santas, de alegria incontida, após anos derramando lágrimas de dor e humilhação. O Botafogo reviveu, como sempre e para sempre.

Obs: Dedico esta crônica à memória do Tiziu, amigo querido e botafoguense fanático, já falecido, e primeiro a me abraçar após o gol do Maurício. Não acredito nessa coisas, mas nesse exato momento sinto a presença dele aqui , me dando aquele mesmo abraço de infinita emoção. Saudade, amigo!

                                              

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Botafogo: Perdemos de 7 e se deixo o Pedrinho tinha virado o jogo

Vou  contar um caso triste e engraçado que aconteceu em uma daquelas derrotas vexaminosas que de quando em vez o Botafogo consegue arrumar. Foi uma de sete que levamos do Bacalhau…ai…ai…aquele time meio brega que usa  camisa com uma faixa atravessada que mais parece cinto de segurança. Mas vamos à tragédia. À época tinha um amigo e sócio, também botafoguense- claro!, doente- mais claro ainda!… pois muito bem, na segunfa-feira após à fatídica derrota, num esforço sobre-humano conseguí me levantar da cama, o corpo pesando toneladas de indignação e vergonha e fui trabalhar, cheguei e fui direto para o escritório, sob os sorrizinhos irônicos dos funcionários, que nada disseram, se tivessem o atrevimento de dizer alguma gracinha seriam sumária e imediatamente demitidos pela mais justa das causas. Pouco depois chega o Pedrinho, jornal por sob o braço, cara amarrotada, olhar perdido… de dar dó a silhueta de meu amigo. Me dá  um bom dia chocho, senta-se em sua mesa, que era defronte à minha, acende um cigarro e começa a ler o jornal, um silêncio sepulcral rondava o ambiente, carregado de nuvens negras e tristes. Eu lá tentando me concentrar em conferir os caixas. Difícil, na mente só a maldita derrota, vergonhosa, indigna do Botafogo. Passado um tempinho o Pedrinho diz:
- Demos muito azar, antes do primeiro gol deles anularam um gol da gente. Juiz safado!
- É…respondi
- E teve um pênalty a nosso favor que o ladrão não deu…
- É…
- E se aquela bola que bateu na trave entra a coisa ia mudar.
- É…
- E o quarto gol deles foi em impedimento, e o vagabundo do bandeira não deu.
 - É…
- E se…
Não deixei ele terminar, dei um soco na mesa, peguei o pesado cinzeiro em forma de pneu de caminhão com uma das mãos, me levantei, apoplético, e disse:
- Porra Pedrinho nós perdemos o jogo de sete, entendeu:  7 x 0…e pelas minhas contas você já empatou a porra do jogo, se virar vou  jogar esse cinzeiro no meio da sua testa!
- É…- resmungou ele.
E fez-se novamente silêncio no turvo ambiente.

Zatonio Lahud.

                                                                   

sábado, 3 de setembro de 2011

Botafogo: nós somos os culpados do Flamengo existir

                      
O Botafogo, por ter alma grande, é o culpado pela existência do Flamengo. O Clube de Regatas Botafogo foi fundado em 1894 e as moçoilas da época logo se apaixonaram por nossos belos remadores, muitas delas moravam no Flamengo, com inveja- sim, eles nasceram da inveja- dos guapos alvinegros alguns rapazes do bairro resolveram fundar um grupo de regatas para rivalizar com o Botafogo e criaram o Clube de Regatas Flamengo, pior, em sua primeira regata o barco da urubuzada virou- como sabem urubu não sabe nadar-  e, após beberem muita água, quase morreram afogados e foram salvos pelos remadores do...Botafogo!
Se nossa alma não fosse generosa teríamos deixados os urubus se afogarem, fomos fazer o bem e acabamos  fazendo um grande mal à humanidade a empesteando destas aves de mau agouro.
Deve ter sido deste fato que surgiu a célebre frase: "Têm coisas que só acontecem ao Botafogo!"

O fato é verdadeiro e está no livro Botafogo- Entre o céu e o inferno, de  Sérgio Augusto ( Ediouro)

                                                                 

Para Armando Nogueira, uma estrela gloriosa

Acordei hoje e tomei conhecimento da morte de Armando Nogueira, o melhor cronista esportivo que esse país já produziu, além de ser um grande torcedor do Botafogo. Creio que Armando Nogueira está para a crônica esportiva no mesmo patamar que está  um Rubem Braga para a crônica em geral.

 Me mudei para Niterói em 1968 e logo aprendi a ler o velho e bom Jornal do Brasil, em cujas páginas de esportes imperavam grandes jornalistas, por mera " coincidência" todos torcedores do Botafogo: João Saldanha, Sandro Moreira, Oldemário Touguinhó, Roberto Porto e o Armando. E para completar a Seleçao alvinegra: Paulo Mendes Campos no caderno B. Não sei por quê, mas todo botafoguense que conheço é inteligente, se não vejamos: os que já citei, Augusto Frederico Schmidt, Fernando Sabino, Vinícius de Moraes, Arthur Dapieve, Arnaldo Bloch, Walter Moreira Salles, meu mestre Saint- Clair, meu amigo Pax e eu, claro! Ah, o Paulo Laurindo- que não é besta, já está se bandeando pro nosso lado.

Não adianta, começo escrevendo uma coisa, acabo me perdendo e mudo de assunto; dane-se o blog é meu escrevo o que quiser e leia quem quiser também. Quem não ficar satisfeito pode ir ver o BBB. Estou chateado com a morte do Armando e não consigo concatenar as ideias.

Muito do que foram Garrincha, Pelé, Didi, Gérson, Tostão, Zito, Nílton Santos e outros, se deve ao Armando, que transformava um drible de Mané ou um gol de Pelé, numa obra literária nas páginas do JB. Futebol era sonho: "via" os jogos pelo rádio e sonhava com meus heróis nas crônicas do Armando. Na mente do garoto do interior eram seres especiais e inatingíveis. Como era bom sonhar como o Armando me fazia. Até que a realidade entrou e me mostrou Garrincha- a alegria do povo( nada mais belo!) desfilando como um farrapo humano num carro alegórico da Mangueira; de ir às lágrimas ao ver Nílton Santos- santo alvinegro, um velhinho frágil e dependente como vi outro dia. A realidade, amigos, não é só dura, é - antes- triste...muito triste!


Obrigado Armando, por ter-me feito sonhar sonhos tão belos. Através de ti, driblei como Garrincha; fiz lançamenos como Gérson e Didi; tive a categoria de Nilton Santos; a velocidade de Jairzinho; o chute potente de Quarentinha. E quantas vezes, Armando, chorei contigo, sem você o saber, as derrotas de nosso atrapalhado e querido Botafogo. Se existe céu e se existem anjos, Armando, você certamente já é um deles. Quem faz uma criança sonhar  sonhos tão lindos só pode ser um anjo. Alvinegro, é claro!

Saudades!!!

Obs: Fiz a crônica no dia posterior ao do falecimento do Armando.